Parte 2: A reconstrução do casal
(Continuação do texto – parte 1)
Como você costuma lidar com desafios na sua vida? Como você se relaciona com as pessoas? Costuma cultivar os relacionamentos ou desiste deles quando surgem as diferenças? O quão profundo são os seus relacionamentos? Já parou para pensar nisso? Hoje em dia, o que marca as relações humanas são os laços frágeis, superficiais e volúveis. Um famoso sociólogo, chamado Bauman, apontou para este fenômeno nomeando a forma como nos relacionamos de “líquida”. Sim, nada hoje é feito para durar. As pessoas têm sido tratadas como bens de consumo, ou seja, quando tem um defeito são descartadas ou trocadas. A isso o autor chamou de “amor líquido”. E o que isso tem a ver com casamento?
Essa maneira de viver e pensar as relações tem afetado também os casamentos. É como se as pessoas só estivessem dispostas a viver o que a relação pode proporcionar de bom. E, como a chegada de um filho é uma das vivências mais impactantes para o casal, às vezes a saída mais rápida e prática parece ser mesmo acabar com o relacionamento. Não estou dizendo com isso que esta é a única causa, vimos no artigo anterior que são muitos os desafios enfrentados pelo casal para se transformar numa família. Mas sim, esta é uma influência que precisamos considerar.
Porém, você quer ir na contramão e decidiu reconstruir seu casamento? Deseja crescer e amadurecer com essa experiência? Vamos considerar alguns pontos, que precisam ser trabalhados, para reconstruirmos nosso relacionamento após a chegada de um filho.
Comunicação: Dependo da fase que o filho está, é muito difícil encontrar tempo para uma conversa. Por isso, é necessário empenho dos dois. Mesmo que seja aquele tempinho diário na hora do sono do filho. A conversa neste momento precisa girar em torno do casal. É uma ótima oportunidade de demonstrar interesse um pelo outro. Perguntar como foi o dia, tentar entender como o outro tem se sentido com as mudanças, etc. Esse tipo de conversa pode fortalecer a parceria entre vocês.
Intimidade: Devido à falta de diálogo e falta de tempo um para o outro, é comum ocorrer um distanciamento emocional. Alguns casais vão deixando de lado coisas simples, como: andar de mãos dadas, fazer um carinho, falar o quanto ama. Isso tem causado uma falta de intimidade a ponto do casal já não saber ao certo como fazer diferente. Portanto, a dica é demonstrar ao outro o que sentimentos. Cada um tem uma forma de entender e sentir esse amor. Pense de que forma seu parceiro irá se sentir amado e valorizado por você. Será com palavras? Será por carinho, toque? Ou quem sabe um presente? Como vocês faziam na época de namoro?
Respeito: Muita coisa mudou para os dois. É bem possível que ambos estejam se esforçando para fazer dar certo. Então, precisamos respeitar o tempo do outro para assimilar essas mudanças. Entender que cada um terá seus limites e cumprirá seu papel de acordo com suas possibilidades.
Tempo para o casal: É fundamental ter um tempo só para o casal. Ao menos, uma vez por mês. É um tempo para relaxar, fazer um programa a dois e resgatar o namoro. Que tal, em vez de passarem o programa só falando do filho, perguntar ao outro como está? No que você pode ajudar? Que tal recordarem de alguma época boa que viveram? Que tal se lembrarem das qualidades que fizeram com que você se apaixonasse pelo seu parceiro (a)?
Tempo para si mesmo: Vocês vão perceber que essa imersão na vida de “pais” vai afastar vocês de quem realmente são. Não irão mais se reconhecer. Provavelmente, não terão tempo para olhar muito para suas próprias necessidades e deixarão de fazer coisas que gostam. Então, é muito importante ter um tempo para si mesmo. Saia com os amigos, converse, assista um filme, não faça nada, mas pare!!! Tenha esse reencontro com você. Se sentir bem é fundamental para fazermos bem ao outro.
Entender que é uma reconstrução e não um resgate: Muitas coisas podem ser resgatadas. Mas, o relacionamento não será como antes. Essa é uma fantasia muito comum: De que um filho chegará e o casamento apenas se reeditará. Na verdade, esse é um momento de reconstrução. Será uma nova relação. A notícia boa é que ela pode ser melhor do que antes. Mais madura, mais profunda.
Recontratar: Essa fase é uma ótima oportunidade de rever as combinações que o casal tinha anteriormente. Tudo mudou, portanto, as combinações entre vocês devem se adaptar à nova fase. Exemplo: Agora que vocês promoveram seus pais a avós, talvez tenham que lidar com interferências que antes não existiam. Então, é preciso rever os limites. Outro exemplo: Antes de ter filho, o marido talvez não ajudasse com trabalhos domésticos, mas agora pode ser necessária essa ajuda. São muitos ajustes a serem feitos nessa fase. É hora de rever as combinações.
Rede de apoio: Tenha uma rede de apoio! Familiares, amigos, profissionais com quem você possa contar. Cada um encontra sua forma de fazer isso, mas faça. E quanto mais apoio tivermos, mais fácil será trabalhar nessa reconstrução de si e da relação. O primeiro passo é tratar disso como algo muito importante, como prioridade! E a isso, temos um complicador que é a desvalorização do casamento, da relação a dois. Quantas de nós já pensamos ou já ouvimos de alguém: “Pedir pra ficar com filho pra sair é um abuso!”. Se for para trabalhar é aceitável, é visto como uma necessidade genuína, se é para cuidar do seu relacionamento é abuso! Porque, afinal, cuidar disso é supérfluo. Infelizmente, esse é o pensamento de muitos. Vamos começar fazendo a diferença? O que acha de se colocar à disposição para ficar com o filho(a) de uma amiga, para o casal ter um momento a dois?
Divisão de tarefas: Estamos avançando neste quesito, sim, os homens tem ajudado mais as mulheres. Na minha opinião, precisamos avançar para uma divisão justa de responsabilidade e não só de ajuda. E quanto mais os homens se envolverem com as tarefas domésticas e cuidados com os filhos, menos sobrecarregada a mulher irá se sentir, portanto mais disposta a investir na relação. Além do mais, isso traz mais aproximação entre o casal e entre pai e filho.
Vida sexual: A qualidade e a frequência das relações sexuais entre o casal é consequência de tudo que comentamos aqui. É consequência da parceria, do respeito e da intimidade. Então vale a pena investir nos pontos citados. Algo que pode atrapalhar muito, além do cansaço físico, é a aceitação por parte da mulher do seu novo corpo. Sim, é um novo corpo que precisamos reconhecer, e melhorar, se isso nos fará sentir melhor.
Ajuda profissional: Às vezes, mesmo querendo resolver as coisas, não conseguimos sozinhos. Existem recursos como a Psicoterapia e o Coaching que podem ajudar muito. Diferente do que muitos pensam, a função do profissional não é encontrar o bandido e o mocinho da história, mas sim, estar a serviço do relacionamento, possibilitando que cada um do casal perceba seus 50% na manutenção dos problemas. Investir no seu relacionamento, é investir em você, é investir na sua família, seu bem maior.
Tatiana Queiroz de A. Santos CRP 05/42047
Psicóloga-Coach. Terapeuta de casais e famílias. Formação em Psicologia Perinatal e Parental.
Apoia mulheres e casais a lidarem com as transformações, que ocorrem com a chegada dos filhos.
Fone: 21-99937-1468
E-mail: contato@tatianaqueirozpsi.com.br
Site: www.tatianaqueirozpsi.com.br