Eu já ouvi de muitas mulheres que não sentiu todo o amor do mundo quando o filho nasceu. Geralmente a frase é um desabafo, dita com vergonha ou cautela pela mãe.
Falamos esse tipo de coisa para amiga muito íntima (que já teve filhos) e sussurrando… Pois junto com a frase vem a culpa. A culpa por não ter amado tão facilmente assim como muitas mulheres narram.
Isso é mais comum do que podemos imaginar! Afinal, o amor não é uma mágica instantânea e sim construído diariamente, dentro de uma relação.
A questão inicial que pretendo trazer para a reflexão hoje é essa cobrança social do amor de mãe ser infinito, incondicional, maior do mundo logo que ela pega seu bebê nos braços. Há uma grande romantização sobre o amor dos pais em geral, principalmente do amor materno.
Segundo a filósofa francesa Elisabeth Badinter, o amor materno é uma construção social histórica datada do século XVIII, na Europa. Anteriormente as mulheres delegavam as amas de leite a nutrição e os primeiros anos de cuidado com os bebês, estes, retornavam ao lar somente quando não usavam mais fraldas nem mamavam.
Isso significa que nem sempre todo esse amor de mãe existiu socialmente e sim, foi construído e dado importância em um período da história europeia. Gostaria de esclarecer que não estamos falando de instinto materno, algo ligado mais ao lado animal e físico da mulher: tentar proteger a cria, amamentar, alimentar e mantê-la viva, isso é comum da espécie dos animais (mamíferos) em geral.
Por essa razão, devemos entender que quando descobrimos a gestação e não sentimos o amor que todos falaram, quando nasce o seu filho e você não é tomada por todo amor do mundo materno, você não é uma aberração, uma péssima mãe.
Esse amor e vínculo, podem ser estimulados desde a gestação com conversas com a barriga, quando sentimos os primeiros chutes e começam as interações entre mãe e bebê, quando cantamos música para eles se acalmarem, mas o amor que irá florescer entre vocês vai vir com o tempo, com os cuidados diários, com os sorrisos, com as noites velando o sono do seu filho e não num piscar de olhos.
Por isso não se culpe, não se envergonhe, não se sinta mal… Repita para você “o amor é uma relação de construção e vamos fazer isso juntos!”.