Não, o filho não é só da mãe!

“O filho é da mãe”. Já escutei muito essa frase durante toda a minha vida. Ela sempre me incomodou, mas só recentemente (quando fui mãe) que parei para tentar entender o que ela diz explicitamente e implicitamente, para nós mulheres. 
Em uma sociedade patriarcal como a que vivemos, o papel do homem se resume basicamente em ser o provedor da casa. Muitas vezes não se preocupando nem mesmo com a educação dos filhos. Por esse motivo, a mulher se imbuía em cuidar da casa e dos filhos. 
De 60 anos para cá, elas começaram a sair do reduto da casa, começaram a trabalhar, seja por desejo, por ideologia (de que a mulher pode muito mais do que cuidar de casa e filhos), seja por abertura social ou até mesmo por crises financeiras em que ela se sentiu responsável pelo provimento da casa também. 
A verdade é que a sociedade mudou bastante, principalmente em relação ao papel da mulher na sociedade. Mas as tarefas que até então eram tidas somente como delas, não foram divididas igualmente. A mulher foi para a rua trabalhar e dividir o sustento do lar com o companheiro mas suas funções como dona de casa e mãe se mantiveram exclusivos dela, acumulando mais funções.
O fato de um dos dois sustentarem a casa ou mesmo os dois saírem para trabalhar fora, não significa que fiquem sem obrigações com o lar, principalmente com a criação e educação dos filhos. Quando um casal decide ter um filho (ou mesmo que ele venha “sem querer”) a responsabilidade pelo ato é dos dois.
Colocar na mulher a responsabilidade única e exclusivamente do filho porque ela gerou, vai amamentar ou tem o instinto materno não combina em nada com as mudanças que estão acontecendo na sociedade atual! Primeiro, porque como citei anteriormente, grande parte das mulheres vão para a rua e trabalham como os companheiros, segundo porque mesmo que elas não trabalhassem fora de casa, a responsabilidade pela criação e educação dos filhos são dos pais, tanto a mãe quanto o pai. E se estamos discutindo e revendo tantas questões sociais, por que não mais essa?
Ouvimos desde pequenas que a obrigação com os filhos são nossas, que nós somos capazes que criar bem um bebê e o homem não. Somos “doutrinadas” a brincar de bonecas mesmo que prefiramos carrinhos, porque “a mulher já possui um instinto maternal” e etc. Fico imaginando o que se passa na cabeça de algumas mulheres que simplesmente não têm esse desejo. Como ela é cobrada socialmente e até mal dita. Algumas frases como: “se você não tiver filhos não conhecerá o verdadeiro amor”, “uma mulher sem filhos é uma mulher incompleta, uma mulher seca”, “espere mais um pouco porque essa vontade vai aparecer em algum momento”, “você não terá ninguém na sua velhice”, “a mulher nasceu para ter filhos” e muitas outras que nos moldam e nos podam diariamente.
O tema da matéria de hoje passa por diversas questões (patriarcado, machismo, discussão de gênero e, enfim, o papel da mulher na sociedade), por isso venho abordando um pouco de cada coisa para finalmente chegarmos ao cerne da discussão. Não se admite mais hoje falarmos o jargão “o filho é da mãe” sem o mínimo de raciocínio e pensamento crítico sobre ele. Legalmente os pais deveriam se ocupar do sustento e educação dos filhos, não só a mãe, mas como citei acima, por uma série de questões sociais esse papel é colocado somente para a mulher. E quando isso é questionado, muitos olham com “cara torta”, como se ela fosse menos mãe por querer dividir com o pai essa tarefa bem árdua que é criar filhos. 
Tanto em uma família de pais casados ou separados, o papel é dos dois. Já se sabe da importância da figura masculina na criação dos filhos tanto para meninos quanto para as meninas. Isso é indiscutível. Então cabe a nós, principalmente mulheres, questionarmos esse antigo pensamento e principalmente educar nossos filhos a começar a pensar diferente, pois se quisermos uma sociedade mais justa, nosso primeiro passo é educar em casa para que futuramente a sociedade comece a mudar através dos atos deles. 
O pai pode e deve dar banho, almoço ou jantar, colocar para dormir, estudar, brincar, levar para passear, passar valores, conversar, educar e quem sabe em algumas gerações paramos de ouvir essa frase que me faz arrepiar “o filho é mal educado por culpa da mãe”. Não, o papel é dos dois, é dos pais, e não vamos mais aceitar que toda a conta seja colocadas em nossas costas porque muitas das vezes nos sentimos péssimas por não dar conta de tudo!
 
Lilica.