O diagnóstico é fornecido por neurologistas, psiquiatras ou neuropediatras, e não por psicólogos, como muitos acreditam, pois o autismo é um problema neurológico e psiquiátrico, e não psicológico. Não é causado por traumas emocionais ou estilo de criação dos pais.
Crianças com a Síndrome de Asperger costumam ter uma interação social incomum e deficitária, interesses pouco usuais para uma criança (podem gostar de postes de iluminação, mapas, planetas, sinais de trânsito, placas, grampeadores de papel, etc., dando pouca importância a brinquedos), sensibilidades acentuadas em um ou mais dos 5 sentidos (incomodam-se com barulhos, cheiros, toque, sabor e textura dos alimentos, luminosidade), além de apresentarem comportamento repetitivo e obsessivo, falando e brincando sempre das mesmas coisas por um longo período de tempo, que pode durar meses ou anos. São geralmente bastante inteligentes e é comum que apresentem quadro conjunto de superdotação intelectual, ao que se denomina “dupla excepcionalidade”. A Síndrome de Asperger raramente ocorre sem a presença de outros transtornos associados, sendo os mais comuns: Ansiedade, Depressão, Transtorno Obsessivo-Compulsivo, Transtorno Opositivo-Desafiador, Transtorno do Déficit de Atenção (com ou sem Hiperatividade), Transtorno Bipolar e Síndrome de Tourette.
Quando as pessoas ouvem a palavra ‘autismo’, a primeira coisa que costuma vir à mente é um quadro severo de doença mental, com prejuízo evidente da inteligência e da fala, além de comportamentos visivelmente afetados, como ficar se balançando num canto ou sacudindo as mãos sem parar. Porém, o que quase nunca se sabe é que não existe um único tipo de autismo, e sim ao menos 5 tipos. Embora todos os tipos tenham um conjunto de sintomas em comum, existe bastante variação de um quadro para o outro, não só quanto aos sintomas, mas também em relação à intensidade e severidade deles. Atualmente, pesquisadores definem o autismo como pertencente a um ‘espectro’, de modo que a nomenclatura usual desse tipo de transtorno seja TEA – Transtorno do Espectro do Autismo.
Para compreendermos o conceito de espectro (do latim spectru-, «visão»), podemos usar como analogia o espectro de cores que o olho humano pode ver:
Assim como as cores variam e se modificam conforme avançam e se distribuem pelo espectro, o autismo também vai assumindo novas formas e apresentações conforme o caso. Ainda usando a analogia de cores, poderíamos imaginar que casos leves de autismo estivessem mais próximos da extremidade esquerda, ou seja, da área azul-esverdeada, casos moderados estariam mais concentrados na área verde-amarelo-alaranjada e casos mais severos estariam mais próximos da extremidade direita do espectro, na porção avermelhada. Nenhum tipo é igual ao outro, mas são todos formas de autismo, assim como o azul, o verde, o amarelo, o laranja e o vermelho são todas cores. Autismo é o termo genérico, assim como a palavra “cor”. Sem determinar de qual cor estamos falando, não saberemos a qual das infinitas possibilidades de cor estamos nos referindo, assim como no autismo: sem determinar qual tipo e nível de severidade, não saberemos a qual das infinitas possibilidades estamos nos referindo. Pessoas na parte azulada do espectro não terão comprometimento da fala ou inteligência, mas pessoas na parte avermelhada provavelmente o terão.
No entanto, é importante observar que ter ‘autismo leve’ não se resume apenas a achar que a criança é, portanto, “praticamente não-autista”, pois isso não é verdade. A classificação de leve-moderado-severo é em comparação a portadores de autismoentre si, e não em relação à comparação entre portadores e não-portadores de autismo. Essa é uma confusão muito comum nas escolas e na população em geral, pois a não obviedade ou severidade dos sintomas dá às pessoas a impressão de que a criança não tem nada, enquanto seu mundo interno silenciosamente desaba pela falta de apoio necessário. Mesmo na extremidade leve do espectro, a criança já terá necessidades especiais em relação a uma criança sem o transtorno e suas dificuldades podem apenas ser menos óbvias, mas tão existentes quanto às de qualquer outro portador de autismo.
A forma de autismo conhecida como Síndrome de Asperger difere substancialmente do tipo severo de autismo que a maioria das pessoas conhece. É considerada uma forma mais leve de autismo porque os comprometimentos gerais são menores e menos óbvios. Na Síndrome de Asperger, a inteligência e fala estão preservadas e as estereotipias são menores ou inexistentes, dando a impressão de tratar-se de um indivíduo de funcionamento normal. Como crianças com Asperger costumam ser muito inteligentes e terem boa fluência verbal, suas dificuldades costumam passar despercebidas num primeiro momento, ficando mais evidentes somente com a convivência diária. Cerca de apenas 5% dos casos de autismo são de síndrome de Asperger.
Nenhuma das formas de autismo apresenta sinais físicos que identifiquem a síndrome. Todo o transtorno está ‘escondido’ no funcionamento mental do indivíduo. Quando há sinais físicos presentes, estes se devem a outros transtornos associados, como a deficiência intelectual, por exemplo.
A seguir, estão algumas características da síndrome de Asperger em crianças:
- Preferem interagir com adultos em vez de crianças.
- Têm dificuldade para brincar ou dividir seus pertences, com apego excessivo a certos objetos.
- Comportamento, fala e brincadeiras repetitivas – brincam da mesma coisa todos os dias.
- Foco de interesse restrito, dedicam a atenção a dois ou três assuntos preferidos e costumam não se interessar por outras coisas além disso.
- Tendência compulsivo-obsessiva (que lembra o TOC – Transtorno Compulsivo-Obsessivo) – criam rituais (popularmente referidos como ‘manias’) que passam a reproduzir diariamente, por exemplo: comer sempre exatamente a mesma coisa, ouvir sempre a mesma história antes de dormir, ter que usar sempre a mesma pasta dental e a mesma cor de sabonete, levar sempre os mesmos itens para os mesmos lugares, fazer sempre o mesmo passeio, etc. A quebra do ritual costuma gerar pânico e causar explosões emocionais; a argumentação é ineficaz e não respondem bem a estratégias de disciplina usuais, de modo que, muitas vezes, o pânico só cessa se a criança tiver permissão para realizar seu ritual.
- Embora não possuam dificuldades de linguagem óbvias, ou seja, em relação à fluência na fala e articulação das palavras, existem os seguintes problemas de comunicação: interpretam errado muita coisa que ouvem, não expressam o que sentem adequadamente (usam palavras erradas, inapropriadas ou fora do contexto, não dizem que estão tristes e em vez disso reclamam da cortina fechada, por exemplo), não compreendem brincadeiras ou expressões populares pela dificuldade em entender as intenções das pessoas (por exemplo, podem ficar bravas quando alguém ri ou ficarem assustadas se alguém disser que “a situação está tão difícil, que estão matando cachorro a grito”).
- Também têm dificuldade em perceber como as outras pessoas se sentem, em avaliar o impacto do que dizem ou fazem e em compreender as normas sociais de convívio, de modo que acabem dizendo algo rude ou magoando alguém sem se darem conta disso.
- Não gostam que fiquem tocando nelas, segurando, beijando ou abraçando, não só pela dificuldade de compreensão da intenção do outro, como pela sensibilidade sensorial que possuem, onde um leve toque pode ser sentido como “mão pesada”: por exemplo, podem interpretar como agressão alguém que de repente venha fazer cócegas na barriga delas (também pelo fator ‘supetão/surpresa’, uma vez coisas repentinas costumam assustá-las). Igualmente, lidam muito mal com esbarrões, empurrões e pisões no pé, inclusive pela dificuldade em entender que foi se querer.
- Têm sensibilidade sonora: deve-se sempre falar em voz baixa com elas. Abraçá-las falando ao mesmo tempo incomoda, pois a boca fica muito próxima do ouvido, fazendo-o doer. Sons altos, música alta, porta batendo, cadeira arrastando, gritaria, gargalhada, muita gente perto conversando, furadeira, martelada, tudo isso as deixa incomodadas. Sons altos repentinos, em especial, assustam tanto que podem causar disfunções orgânicas por muitos dias após o susto. Têm pavor de aplausos e pessoas cantando juntas, como hinos, corais, parabéns em aniversários ou músicas infantis cantadas em grupo ou roda enquanto se bate palmas.
- Não gostam das coisas que a maioria das crianças gosta: jogos, esportes, brincadeiras em grupo, festas, correria, super-heróis, recreio. Preferem materiais diversos que geralmente não são brinquedos, tais como revistas, lanternas, equipamentos em geral, silêncio e adultos por perto.
- Se incomodam com excesso de perguntas e têm dificuldade em responder coisas pessoais, como o que fizeram no fim de semana, com o que brincam em casa, qual o desenho preferido, etc. Quando mais novas (até por volta dos 5 anos, em média) podem não responder o nome nem a idade.
- Têm muita dificuldade com qualquer tipo de pressão para que façam alguma coisa.
- Nunca se esquecem do que foi prometido – falas como “pode deixar que eu vou trazer um pra você” serão lembradas por meses depois, e devem ser cumpridas rapidamente, pois a criança ficará na extrema ansiedade contando com aquilo, ou jamais deve-se prometer qualquer coisa que seja.
- Ótima memória de categorização, classificação: geralmente aos 2 anos já sabem todo o alfabeto, todas as cores, formas geométricas, nomes de animais, comidas, etc. Muitas leem precocemente, se interessam por livros de adultos e desenvolvem um vocabulário sofisticado atípico para as crianças de mesma idade.
- Costumam gostar muito de animais e plantas.