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Adaptação de uma mãe à creche


Quando o assunto é creche, umas das principais coisas que nos vêm a cabeça é como nossos pequenos irão reagir a tamanha mudança. Eles saem do aconchego do nosso lar, conosco, ou com os avós ou mesmo com babás e vão para um lugar diferente, cheio de crianças, cuidadoras e tias, com uma rotina um pouco (às vezes totalmente) diferente da de casa e o pior: passam pela separação dos pais.

Alguns vão ainda bebês para a creche, outros um pouco maiores, mas isso não muda o misto de sentimentos que ambos sentem com tamanha mudança. Escrevo esse texto baseado em um relato pessoal mas que tenho certeza,tocará outras mamães, vovós e papais.

Com 1 ano e 4 meses, decidimos que o nosso pequeno iria para a creche, por vários motivos, mas o principal deles era a minha falta de tempo em dar conta do trabalho, de casa e do bebê. Quando não temos ajuda dos familiares ou essa ajuda é esporádica, a rotina é um tanto quanto pesada e cada família sabe o seu limite. Nosso limite, principalmente o meu, tinha chegado. Eu precisava retornar integralmente ao mercado de trabalho, fazer cursos, realizar atividades que são importantes para mim como mulher e profissional. Ele já não era mais um bebezinho, já anda, entende muita coisa, está pronunciando as primeiras palavras, brinca e interage. Acredito também que será bom para seu desenvolvimento a interação com outras crianças, para aprender a dividir, a ter limites e a esperar a sua vez. 

Escolhemos a melhor creche dentre nossas opções, queríamos um lugar acolhedor, que não tivesse muitas crianças por sala, que a alimentação fosse o mais saudável possível. Conversando com algumas mães conhecidas e de convivência da pracinha, me chegavam informações de que essa creche realmente era muito boa. Meu coração ficou aliviado por saber que ele estaria em boas mãos e sendo bem tratado.

Começamos a adaptação, um pouco por dia, a cada dia aumentava meia hora ou uma hora, de acordo com a resposta dele, e em menos de 2 semanas ele já estava ficando bem sem a minha presença na sala. Às vezes perguntava por mim, as tias diziam que eu tinha ido trabalhar mas voltaria para buscá-lo e tudo fluiu bem. 

No último dia da adaptação a tia responsável pelos alunos, me disse que eu poderia ir embora, para casa (até então eu ficava na escola ou me arriscava a passear pelo comércio próximo). Acho que quem não estava pronta era eu, senti uma angústia por deixá-lo por algumas horas sem a minha “supervisão”, relutei em ir e ainda assim, fiquei mais duas horas sentada no banco da escola. A professora voltou um tempo depois e perguntou se eu estava bem. Sim, eu estava, só não estava aceitando essa separação. Meu menino, meu pequeno que eu sempre cuidei, estava ficando bem sem mim, estava interagindo com outras pessoas e eu não me fazia tão essencial assim. Foi isso que eu senti.

Tomei coragem e fui embora da escola, senti vontade de chorar, chorei, mandei mensagem para meu marido, irmã, amiga e, por fim, liguei para minha mãe, atrás de forças e palavras de conforto. Eu sei que ele vai ficar bem e eu também, mas não conseguia simplesmente negar as sensações que eu estava tendo com esse passo que estávamos dando. Fui tomar um bom café da manhã, resolver algumas coisas e espairecer. Foi bom para tirar esses pensamentos angustiantes da cabeça, ele iria ficar bem.

Refletindo sobre a adaptação dele na creche, cheguei a conclusão que as mães e/ou os responsáveis também precisam de adaptação e muita conversa. Não é só a criança que precisa entender que a rotina dela irá mudar, que ela irá conviver com outras pessoas, mas como mãe que vivia 24 horas grudadinha no meu filho, preciso entender que ele estará durante 8 horas por dia aos cuidados de outras pessoas, e elas darão conta do recado, do jeito delas. Precisamos entender que não somos insubstituíveis e que nossos pequenos vão ao longo dos anos galgando novos desafios, crescendo, aprendendo cada vez mais. E a creche foi o primeiro desafio para mim, como mãe. 

Ao mesmo tempo que senti toda essa angústia e vontade de ficar, senti vontade de fazer tantas coisas que geralmente é difícil ou impossível com a companhia dele, como fazer compras sem pressa, poder olhar os rótulos dos produtos (sim, eu faço isso!), ir ao salão de beleza, estudar, fazer cursos, ir ao cinema (e por que não?). Um misto de sentimentos: liberdade e ao mesmo tempo saudade! Alegria e ao mesmo tempo tristeza por não tê-lo pertinho. Realização de poder fazer muitas atividades importantes para mim que ficaram renegadas por algum tempo e ao mesmo tempo, culpa. Essa dualidade parece não ter fim, principalmente para nós, mães. Nossas escolhas são carregadas de sentimentos, expectativas, frustrações, por isso esse trabalho interno dos sentimentos se faz tão necessário para nós mães nesse momento de “separação” que é a entrada de nossos filhos a creche.

Com carinho, de uma mãe que está sobrevivendo dia após dia,

Lilica.

 

Se quiser ler a carta pelo primeiro dia do meu filho, clique aqui.

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